PÁPIAS
DE HIERÁPOLIS E A TRADIÇÃO DOS EVANGELHOS
José
Aristides da Silva Gamito
Na
obra “História Eclesiástica”, Eusébio de Cesareia nos informa que Pápias de
Hierápolis preservou ensinamentos de Jesus no escrito “Explicações sobre as
Palavras do Senhor”. Nas citações que
Eusébio faz de sua obra percebemos a preocupação que houve na antiguidade em
preservar os verdadeiros ensinamentos de Jesus. Pápias procurava ouvir pessoas
que conviveram com os apóstolos para garantir essa autenticidade da doutrina.
Porém,
ao discutir essas memórias tão procuradas por Pápias, Eusébio já enfrentava
dificuldades em discernir lendas de fatos históricos. A literatura e o
fechamento de um cânone foram importantes para padronizar a doutrina. Uma
função que tiveram também os concílios, mas ao mesmo tempo com o processo de
institucionalização da igreja, muitas tradições sobre Jesus caíram no
esquecimento. É um processo de perdas e ganhos. As igrejas buscaram na
institucionalização algum consenso para a sobrevivência do movimento cristão,
mas com a rejeição e destruição de obras heréticas ou não-canônicas houve um
silenciamento de outras vozes do cristianismo primitivo.
Na
obra de Pápias há um esforço de preservação de memórias de Jesus. Eusébio nos
diz que ele ouvi dois discípulos dos apóstolos: Aristião e João, o Presbítero.
Alguns fatos são citados pelo autor de “História Eclesiástica”. Conforme esses
relatos, o apóstolo Filipe e suas filhas viveram em Hierápolis e cita dois
milagres, um de ressurreição de um morto e outro de um homem que bebeu veneno e
nada sofreu.
As
tradições de Pápias envolvem “algumas estranhas parábolas do Salvador e de sua
doutrina, e algumas outras coisas ainda mais fabulosas.” Uma das citações
procura explica a autoria do Evangelho de Marcos:
“E
o presbítero dizia isto: Marcos, que foi intérprete de Pedro, pôs por escrito,
ainda que não com ordem, o quanto recordava do que o Senhor havia dito e feito.
Porque ele não tinha ouvido o Senhor nem o havia seguido, mas, como disse, a
Pedro mais tarde, o qual transmitia seus ensinamentos segundo as necessidades e
não como quem faz uma composição das palavras do Senhor, mas de tal forma que
Marcos em nada se enganou ao escrever algumas coisas tal como as recordava. E
pôs toda sua preocupação em uma só coisa: não descuidar nada de quanto havia
ouvido nem enganar-se nisto o mínimo.”[1]
A autenticidade da obra de Marcos é
garantida por ele ter ouvido Pedro e através das recordações do apóstolo, o
evangelista não se enganou e nem descuidou de nada que Jesus fez e ensinou.
Os escritos de Pápias são
importantes para história da transmissão das memórias de Jesus e os evangelhos.
Bauckham sugere que Pápias escreveu um texto similar aos evangelhos, alguma
coleção de ditos de Jesus, a partir de outros evangelhos ou a partir de fontes
orais. Ou poderia ser somente um comentário sobre as tradições sobre Jesus.[2] Se
existiu um “Evangelho segundo Pápias”, ele ficou perdido.
Referências
BAUCKHAM, Richard. Papias
and the Gospels. Disponível em: http://austingrad.edu/images/SBL/Papias%20and%20the%20gospels.pdf
. Acesso em 08 dez. 2017.
CESAREIA, Eusébio de. História Eclesiástica. São Paulo: Novo
Século, 2002, p. 74-75.
[2] BAUCKHAM, BAUCKHAM, Richard. Papias and the Gospels. Disponível em: http://austingrad.edu/images/SBL/Papias%20and%20the%20gospels.pdf
. Acesso em 08 dez. 2017, p.2.
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