segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Série Christianitates - Os cristianismos antigos 09




OS CRISTIANISMOS ANTIGOS

José Aristides da Silva Gamito

A concepção de um cristianismo único e homogêneo soa como um mito quando falamos do cristianismo dos primeiros séculos. As diferenças doutrinárias entre os diversos grupos, os costumes das diferentes regiões do Império Romano, tudo nos leva a desenhar um quadro desta religião como multifacetária. As comunidades cristãs antigas apresentavam variadas formas de vivenciar o cristianismo.
Os primeiros missionários levaram o cristianismo para as diversas províncias do
Império Romano. Entre fins do século II a início do século III, já havia cristãos na Espanha. Isso representa o extremo da expansão do movimento. Toda esta extensão territorial e esta variedade cultural geraram muitas polêmicas entre cristãos ortodoxos e heterodoxos. Os autores antigos como Hipólito de Roma, Ireneu de Lião e Epifânio de Esmirna escreveram críticas duras a pessoas que pregavam doutrinas diferentes e formavam comunidades independentes.

Os cristianismos antigos

Os principais grupos cristãos antigos são:

Gnosticismo: É uma corrente cristã que considerava que a salvação se dava pelo conhecimento. Um dos cristãos gnósticos mais influentes foi Valentim de Alexandria (+160). O gnosticismo compreendia vários grupos.
Valentianismo: É um dos ramos mais notáveis do gnosticismo fundado por Valentim de Alexandria.
Encratismo: É um cristianismo com práticas rigorosas como o vegetarianismo, a sobriedade alcoólica e o celibato.
Ebionismo: Era um grupo cristão que observava muitos pontos da lei judaica e negava a preexistênica de Jesus.
Carpocriacianismo: É um movimento cristão do século II iniciado por Carpócrates de Alexandria que considerava Jesus como filho biológico de José e rejeitava o Antigo Testamento.

Setianismo: É um movimento cristão que identificava Cristo com Seth e deixou uma extensa literatura inclusive textos apócrifos.
Marcionismo: Era um movimento cristão de base paulina, rejeitava o Antigo Testamento, tinha uma edição própria de Evangelho e uma moral severa.
Maniqueísmo: Era um grupo que acreditava que o universo era composto por um reino do bem e outro do mal, acreditavam num Cristo celestial.

Considerações gerais

Houve divisão entre os cristãos quanto à relação entre a Lei e a graça, quanto à aceitação do Antigo Testamento, quanto à natureza de Cristo. Foram dezenas de temas que geraram divisões. Epifânio de Salamina elenca em sua obra Panarion cerca de 25 grupos cristãos heterodoxos.
As controvérsias sobre a identidade de Cristo foram um dos temas que mais gerou divisões, as chamadas “controvérsias cristológicas”. Os concílios que aconteceram a partir do século III tinham como objetivo superar essas divisões através de normatizações e declarações de dogmas para toda a Igreja.
Por esta razão, os estudiosos Walter Bauer e Bart Ehrman consideram que o cristianismo primitivo era um conjunto de cristianismos. Havia várias versões das crenças cristãs. O que fizeram os concílios do século II ao século IV foi tentar homogeneizar uma vertente dogmática-padrão, “a ortodoxia católico-ortodoxa”.
Esta ortodoxia foi expressa pelos concílios ecumênicos. A maioria dos cristianismos heterodoxos, chamados de “heresias”, acabou não sobrevivendo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário