OS
CRISTIANISMOS ANTIGOS
José
Aristides da Silva Gamito
A concepção de um
cristianismo único e homogêneo soa como um mito quando falamos do cristianismo
dos primeiros séculos. As diferenças doutrinárias entre os diversos grupos, os
costumes das diferentes regiões do Império Romano, tudo nos leva a desenhar um
quadro desta religião como multifacetária. As comunidades cristãs antigas
apresentavam variadas formas de vivenciar o cristianismo.
Os primeiros
missionários levaram o cristianismo para as diversas províncias do
Império Romano. Entre fins do século II
a início do século III, já havia cristãos na Espanha. Isso representa o extremo
da expansão do movimento. Toda esta extensão territorial e esta variedade
cultural geraram muitas polêmicas entre cristãos ortodoxos e heterodoxos. Os
autores antigos como Hipólito de Roma, Ireneu de Lião e Epifânio de Esmirna
escreveram críticas duras a pessoas que pregavam doutrinas diferentes e
formavam comunidades independentes.
Os
cristianismos antigos
Os principais grupos cristãos antigos
são:
Gnosticismo:
É uma corrente cristã que considerava que a salvação se dava pelo conhecimento.
Um dos cristãos gnósticos mais influentes foi Valentim de Alexandria (+160). O gnosticismo
compreendia vários grupos.
Valentianismo:
É um dos ramos mais notáveis do gnosticismo fundado por Valentim de Alexandria.
Encratismo:
É um cristianismo com práticas rigorosas como o vegetarianismo, a sobriedade alcoólica
e o celibato.
Ebionismo:
Era um grupo cristão que observava muitos pontos da lei judaica e negava a preexistênica
de Jesus.
Carpocriacianismo:
É um movimento cristão do século II iniciado por Carpócrates de Alexandria que considerava
Jesus como filho biológico de José e rejeitava o Antigo Testamento.
Setianismo:
É um movimento cristão que identificava Cristo com Seth e deixou uma extensa literatura
inclusive textos apócrifos.
Marcionismo:
Era um movimento cristão de base paulina, rejeitava o Antigo Testamento, tinha
uma edição própria de Evangelho e uma moral severa.
Maniqueísmo:
Era um grupo que acreditava que o universo era composto por um reino do bem e outro
do mal, acreditavam num Cristo celestial.
Considerações
gerais
Houve divisão entre os
cristãos quanto à relação entre a Lei e a graça, quanto à aceitação do Antigo
Testamento, quanto à natureza de Cristo. Foram dezenas de temas que geraram
divisões. Epifânio de Salamina elenca em sua obra Panarion cerca de 25 grupos
cristãos heterodoxos.
As controvérsias sobre
a identidade de Cristo foram um dos temas que mais gerou divisões, as chamadas
“controvérsias cristológicas”. Os concílios que aconteceram a partir do século
III tinham como objetivo superar essas divisões através de normatizações e
declarações de dogmas para toda a Igreja.
Por esta razão, os
estudiosos Walter Bauer e Bart Ehrman consideram que o cristianismo primitivo
era um conjunto de cristianismos. Havia várias versões das crenças cristãs. O
que fizeram os concílios do século II ao século IV foi tentar homogeneizar uma
vertente dogmática-padrão, “a ortodoxia católico-ortodoxa”.
Esta ortodoxia foi expressa pelos
concílios ecumênicos. A maioria dos cristianismos heterodoxos, chamados de
“heresias”, acabou não sobrevivendo.
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