OS
CÂNONES DE ANTIGUIDADE CRISTÃ
Para começo de conversa vale salientar
que a definição rígida de um cânone de Escrituras é um problema dos monoteísmos
(cristianismo, judaísmo e islamismo). E sempre foi motivo de debates. Na
antiguidade cristã, porém, podemos identificar este processo de formação do
cânone do Novo Testamento. O Novo Testamento não definido da noite para o dia.
Todo o processo de redação, transmissão e de definição dos textos sagrados
estão atrelados a fatores culturais e sociais. Embora, fora da academia haja
muita dificuldade por parte de crentes de aceitarem a historicidade deste
processo. Mas ele não foi instantâneo, mágico!
Os antigos cristãos tinham três critérios
básicos para definir se um texto deveria ser incluído no Novo Testamento: a) Os
livros deveriam ter autoridade apostólica, sendo escrito pelos apóstolos ou
seus seguidores; b) Os textos deveriam estar em harmonia com os ensinamentos
ortodoxos; c) Consenso na aceitação e uso pelos livros nas igrejas antigas.
Mesmo com estes critérios não foi fácil definir o cânone!
Os cânones da antiguidade
Cânon Muratoriano
- A lista de livros canônicos do Novo Testamento mais antiga é o cânon
muratoriano. Ela continha apenas 22 livros, Hebreus, Tiago, 1ª e 2ª Pedro e 3ª
João ficaram de fora, e a acrescentava o Apocalipse de Pedro.
Cânon de Orígenes de Alexandria –
Orígenes nascido em 185, aceita em suas obras oquatro evangelhos, as cartas
paulinas, uma carta de Pedro, uma carta de João e o Apocalipse de João. A Carta
aos Hebreus está incluída.
Cânon de Eusébio de Cesareia – No início
do século IV, Eusébio em sua obra “História Eclesiástica” indica os livros do NT
como canônicos. Mas informa que Tiago, Judas, 2ª Pedro, 2ª e 3ª João
continuavam na controvérsia. O Apocalipse de João também não era aceito.
Cânon de Atanásio de Alexandria – Atanásio aceitava os 27 livros do
NT. A partir daí cresce uma convergência em torno do cânone.
Cânon do III Sínodo de Cartago -
Foi um concílio realizado no norte da África e que definiu pela primeira vez o
cânone do Novo Testamento com 27 livros.
Notas gerais
Portanto, foi somente em 397, no Concílio
de Cartago, mais de 300 anos depois do início do cristianismo, é que houve um
documento oficial registrando o consenso dos cristãos em torno do cânone do
Novo Testamento. Neste concílio, foi registrada também a opção pelo cânone mais
longo do Antigo Testamento, que voltará a ser motivo de debate na Reforma
Protestante. Por esta razão, o Concílio Católico de Trento reafirmou a lista do
século IV em 1546. O cânone de Lutero optou pelos cânones das primeiras etapas
do cristianismo que são mais curtos, ou seja, com a exclusão dos antilegómena,
e com a exclusão dos livros deuterocanônicos (para os católicos) ou apócrifos
(para os protestantes) do cânone da Septuaginta.
Qual é o cânone correto? Esta é uma
questão de consenso interno das igrejas.
É
uma disputa para se travar até o Juízo Final! O objetivo desta série é mostrar
como ocorreu este processo nos primeiros séculos do cristianismo.
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