domingo, 12 de agosto de 2018

Série Christianitates - O cânone do Novo Testamento 06





OS CÂNONES DE ANTIGUIDADE CRISTÃ

            Para começo de conversa vale salientar que a definição rígida de um cânone de Escrituras é um problema dos monoteísmos (cristianismo, judaísmo e islamismo). E sempre foi motivo de debates. Na antiguidade cristã, porém, podemos identificar este processo de formação do cânone do Novo Testamento. O Novo Testamento não definido da noite para o dia. Todo o processo de redação, transmissão e de definição dos textos sagrados estão atrelados a fatores culturais e sociais. Embora, fora da academia haja muita dificuldade por parte de crentes de aceitarem a historicidade deste processo. Mas ele não foi instantâneo, mágico!
            Os antigos cristãos tinham três critérios básicos para definir se um texto deveria ser incluído no Novo Testamento: a) Os livros deveriam ter autoridade apostólica, sendo escrito pelos apóstolos ou seus seguidores; b) Os textos deveriam estar em harmonia com os ensinamentos ortodoxos; c) Consenso na aceitação e uso pelos livros nas igrejas antigas. Mesmo com estes critérios não foi fácil definir o cânone!

Os cânones da antiguidade

            Cânon Muratoriano - A lista de livros canônicos do Novo Testamento mais antiga é o cânon muratoriano. Ela continha apenas 22 livros, Hebreus, Tiago, 1ª e 2ª Pedro e 3ª João ficaram de fora, e a acrescentava o Apocalipse de Pedro.
         Cânon de Orígenes de Alexandria – Orígenes nascido em 185, aceita em suas obras oquatro evangelhos, as cartas paulinas, uma carta de Pedro, uma carta de João e o Apocalipse de João. A Carta aos Hebreus está incluída.
            Cânon de Eusébio de Cesareia – No início do século IV, Eusébio em sua obra “História Eclesiástica” indica os livros do NT como canônicos. Mas informa que Tiago, Judas, 2ª Pedro, 2ª e 3ª João continuavam na controvérsia. O Apocalipse de João também não era aceito.
            Cânon de Atanásio de Alexandria – Atanásio aceitava os 27 livros do NT. A partir daí cresce uma convergência em torno do cânone.

            Cânon do III Sínodo de Cartago - Foi um concílio realizado no norte da África e que definiu pela primeira vez o cânone do Novo Testamento com 27 livros.

Notas gerais

            Portanto, foi somente em 397, no Concílio de Cartago, mais de 300 anos depois do início do cristianismo, é que houve um documento oficial registrando o consenso dos cristãos em torno do cânone do Novo Testamento. Neste concílio, foi registrada também a opção pelo cânone mais longo do Antigo Testamento, que voltará a ser motivo de debate na Reforma Protestante. Por esta razão, o Concílio Católico de Trento reafirmou a lista do século IV em 1546. O cânone de Lutero optou pelos cânones das primeiras etapas do cristianismo que são mais curtos, ou seja, com a exclusão dos antilegómena, e com a exclusão dos livros deuterocanônicos (para os católicos) ou apócrifos (para os protestantes) do cânone da Septuaginta.
            Qual é o cânone correto? Esta é uma questão de consenso interno das igrejas.
É uma disputa para se travar até o Juízo Final! O objetivo desta série é mostrar como ocorreu este processo nos primeiros séculos do cristianismo.


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