O
EVANGELHO DE TOMÉ – UMA BREVE INTRODUÇÃO
José
Aristides da Silva Gamito
Introdução
O
Evangelho Copta[1]
de Tomé foi uma das mais sensacionais descobertas arqueológicas do século XXI.
O documento era desconhecido antes de 1945, quando camponeses cavavam por adubo
perto da aldeia de Nag Hammadi, no Egito. Acidentalmente, eles descobriram um
jarro contendo 30 manuscritos cobertos de couro enterrados algum dia do século
quarto. Quando os manuscritos chamaram a atenção dos estudiosos de antiguidade,
suas importâncias foram imediatamente reconhecidas: Eles continham 52 tratados,
principalmente de cristãos gnósticos. Embora, originalmente escritos em grego,
os escritos estavam em uma tradução copta. Muitos deles eram conhecidos apenas
pelo título. Hoje esses escritos são conhecidos pela Biblioteca de Nag Hammadi.
Nenhum
dos 52 tratados tem chamado tanto a atenção quanto o Evangelho de Tomé. Para essa coleção de ditos de Jesus que
reivindica como autor Dídimo Judas Tomé. O texto inicia afirmando: “Estes são os
ensinamentos secretos que Jesus Vivente disse e que Dídimo Judas Tomé
escreveu”. Segundo algumas lendas, Tomé era irmão gêmeo de Tomé (EHMAN, 2003).
Conteúdo
do Evangelho de Tomé
O
livro registra 114 ensinamentos secretos de Jesus. E não inclui outros
materiais: Milagres, narrativa da paixão, histórias da infância. O que
realmente importava para o autor não era a morte e ressurreição de Jesus, as
quais ele não menciona, mas a doutrina misteriosa que ele transmitiu. De fato,
o Evangelho começa com afirmando que conhece a interpretação dessas palavras
terá a vida eterna.
Muitos
desses ditos soarão familiar aos leitores que já conhecem os Evangelhos de
Mateus, Marcos e Lucas. Por exemplo, nele será encontrada a passagem “cego
guiando cego” e as parábolas do semeador e do grão de mostarda (ditos 9, 20,
34). Outros ditos, contudo, são bastante
diferentes e procedem de um ponto de vista gnóstico, nos quais as pessoas são
compreendidas por serem espíritos que vieram do reino divino e que estão
aprisionados na matéria (na prisão dos corpos materiais). A salvação segundo esta perspectiva vem para
aqueles que aprendem a verdade de sua condição e estão aptos a se libertarem
desta existência material empobrecida pela aquisição do conhecimento necessário
a salvação (ver ditos 11, 22, 29, 37 e 80). Jesus é quem transmite este
conhecimento (ERHMAN, 2003).
Alguns
ditos do Evangelho encontram paralelos nos canônicos. Outros soam estranhos a
leitores familiarizados com os canônicos. Assim como aqueles, o texto de Tomé
combina falas de Jesus a falas atribuídas a Jesus por outras pessoas. As
discussões sobre o Tomé já cobrem meio século, porém, pouca atenção foi dada ao
evangelho pelo fato de ter sido considerado gnóstico por alguns autores. Stevan
L. Davies afirma que o evangelho não é gnóstico e o situa no contexto da Igreja
Primitiva.
O
Evangelho Copta de Tomé era conhecido anteriormente a descoberta de Nag Hammadi
através de fragmentos de papiros em grego encontrados em 1897 e 1903 próximo a
cidade egípcia de Oxirrinco[2]. O
texto copta foi traduzido para o inglês na década de 50 (DAVIES, 1983).
Data da redação do
Evangelho de Tomé
Alguns
estudiosos sustentam que os ditos de Tomé podem ser os mais próximos ao que
Jesus ensinou na realidade do que nós encontramos no Novo Testamento; outros,
contudo, apontaram que esses escritos gnósticos não podem ser situados no
começo do século II. Assim, enquanto alguns desses escritos podem ser bem
antigos – voltando ao tempo de Jesus mesmo – o documento na íntegra pode ter
sido escrito algum tempo depois dos evangelhos canônicos, possivelmente bem
cedo no século II (ERHMAN, 2003).
Segundo
Valantasis, estudiosos propõe como datas possíveis para a redação do Evangelho
de Tomé mais antigo o ano 60 e o mais tarde 140. Os códices encontrados são do
século III. Considerando as características comuns a outros escritos cristãos
dos primeiros séculos Valantasis surge que deva ter sido escrito entre 100 a
110. A teologia implícita no texto aproxima da tendência do evangelho de João e
as cartas de Inácio. Os textos das parábolas indicam a precedência de Tomé ao
século II.
REFERÊNCIAS
EHRMAN, Bart D. Lost
Scriptures: Books that did not make it into the New Testament. New York:
Oxford University Press, 2003.
DAVIES, Stevan. The
Gospel of Thomas and Christian Wisdom. New York: The Seabury Press, 1983.
[1]
O copta saídico é o dialeto
copta com mais textos escritos. Era a variante mais difundida anterior a época
do islamismo. Foi altamente utilizado na literatura no século XV e sobreviveu
até o século XIV (WIKIPÉDIA, 2016).
[2]
Oxirrinco é uma cidade egípcia
situada a 160 km a sul-sudoeste do Cairo, no Egito. Atualmente, é conhecida em
árabe por El-Bahnasa. É um sítio arqueológico onde foram encontradas
importantes coleções de papiros (WIKIPÉDIA, 2016).
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