terça-feira, 7 de agosto de 2018

Série Christianitates - As epístolas apostólicas apócrifas 04




AS EPÍSTOLAS APOSTÓLICAS APÓCRIFAS

José Aristides da Silva Gamito

Introdução

            As epístolas foram uma forma textual encontrada pelos primeiros apóstolos e bispos para se comunicarem com suas comunidades. Elas foram utilizadas inicialmente para resolver problemas locais, embora algumas epístolas continham instruções mais gerais. A maioria das epístolas atribuídas a Paulo foi admitida no Novo Testamento. Como o cânone não é resultado de um consenso simples e imediato, no Cânone muratoriano (de 170), as epístolas de Tiago, Hebreus e de Pedro não foram recebidas como “inspiradas por Deus”. Quando eu falo de cânone, eu me refiro à lista dos livros considerados inspirados por Deus (como AT e NT). Essas listas sempre foram motivos de controvérsias! Por exemplo, como vimos anteriormente, o Apocalipse de Pedro já foi livro sagrado.
            Muitas epístolas circulavam naquela época como escrita pelos apóstolos. Paulo foi o maior alvo dessas disputas. Algumas comunidades liam a Epístola aos Laodicenses e a Epístola aos Alexandrinos como textos autênticos do apóstolo. O Cânone Muratoriano dirá que elas não são de Paulo e nem devem ser lidas como sagradas. De modo geral, sabemos que os primeiros cristãos leram mais cartas como sagradas além daquelas que estão no Novo Testamento. Os cânones locais acabaram trazendo diferenças doutrinais e, consequentemente, divisões no cristianismo antigo.

Os escritos apostólicos apócrifos

            Há uma grande lista de epístolas que circularam na antiguidade como sendo da autoria dos apóstolos. Muitas se tratam de pseudepígrafos, porém, algumas perdidas podem remontar à tradição de algum apóstolo:

a)    Epístolas pseudo-paulinas:
            Epístola aos Laodicenses: É uma epístola antiga atribuída a Paulo, mas que segundo alguns heresiólogos seria um texto marcionita. O texto é associado à menção de Cl 4, 16. Ela foi preservada em muitos manuscritos latinos como o Códex Fuldensis datado de 546.
Epístola aos Alexandrinos: Seu nome é citado no Cânone Muratoriano como um texto a ser rejeitado. É considerada por este documento como um texto marcionita. Seu texto é desconhecido.
Epístola aos Macedônios: É um texto mencionado por Clemente de Alexandria. Pode ter sido uma epístola apócrifa atribuída a Paulo.
3ª Epístola de Paulo aos Coríntios: É uma epístola apócrifa atribuída a Paulo mencionada nos Atos de Paulo. Pode ter sido um texto da primeira metade do século II. Foi preservado no Papiro Bodmer X.

b)      Epístolas pseudo-petrinas:
Epístola de Pedro a Tiago: É uma epístola de Pedro transmitida pelas Homilias Pseudo-Clementinas. É do final do século II.
Epístola de Pedro a Filipe: É um texto do final do século II a início do século III. Foi conservada em língua copta nos códices de Nag Hammadi.

c)      Outras cartas
Epístola de Tito, discípulo de Paulo: É uma epístola preservada no manuscrito Códex Burchardi do século VIII. A obra poderia estar associada aos cristãos priscilianistas.
4ª Epístola de João: É uma epístola de João citada pelo Pseudo-Cipriano no texto De Duóbus Móntibus Sina et Sion.
Epístola de Barnabé: É uma epístola que também já foi considerada como texto sagrado. Já apareceu também no final do Novo Testamento.
Epístola dos Apóstolos: É uma epístola longa e data do século II. É um texto utilizado pela Igreja Ortodoxa Etíope.

Considerações gerais

            Além dos evangelhos, as epístolas apostólicas são fontes primárias da doutrina cristã. Portanto, a circulação de muitas epístolas tinha como pretensão utilizar a autoridade dos apóstolos para defender algumas doutrinas. O cristianismo primitivo estava dividido em vários grupos e muitos tinham seus cânones próprios.
            Nos primeiros séculos, alguns textos que hoje não são considerados canônicos gozaram de tal consideração como o Apocalipse de Pedro, Pastor de Hermas e a Epístola de Barnabé. Assim como outros hoje aceitos só entraram mais tarde como Tiago, 2ª Pedro e 2ª e 3ª João (cânone de Orígenes). A Epístola aos Hebreus, de Judas e o Apocalipse de João também foram alvo de divergências. Por outro lado, Eusébio de Cesareia nos informa que foi aceito por uns um quinto evangelho: o Evangelho dos Hebreus (25, 5). Este conjunto do Novo Testamento foi chamado de antilegómena (“obras em disputa”). Apesar do consenso em torno do cânone no século IV, as igrejas orientais e ocidentais ainda possuem diferenças em seus cânones.
            Neste vídeo (texto), o objetivo era mostrar que várias epístolas circularam sob as autoridades dos apóstolos. Muitas foram escritas em nome de apóstolos que já tinham morrido. O consenso em torno desses textos foi um processo lento e difícil de ser decidido. O cânone foi mais flexível no Oriente, a rigidez maior aconteceu no Ocidente.

Referências

EHRMAN, Bart D.  Lost Scriptures: Books that Did not in to the New Testament. Oxford/New York: Oxford University Press, 2003.

SCHNEEMELCHER, Wilhelm. New Testament Apocrypha. Volume Two: Writings Related to Apostles; Apocalypses and Related Subjects. Louisville; Kentucky: Westminster John Knox Press, 2003.


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