AS
EPÍSTOLAS APOSTÓLICAS APÓCRIFAS
José
Aristides da Silva Gamito
Introdução
As epístolas foram uma forma textual
encontrada pelos primeiros apóstolos e bispos para se comunicarem com suas
comunidades. Elas foram utilizadas inicialmente para resolver problemas locais,
embora algumas epístolas continham instruções mais gerais. A maioria das
epístolas atribuídas a Paulo foi admitida no Novo Testamento. Como o cânone não é resultado de um consenso
simples e imediato, no Cânone muratoriano (de 170), as epístolas de Tiago,
Hebreus e de Pedro não foram recebidas como “inspiradas por Deus”. Quando eu
falo de cânone, eu me refiro à lista dos livros considerados inspirados por
Deus (como AT e NT). Essas listas sempre foram motivos de controvérsias! Por
exemplo, como vimos anteriormente, o Apocalipse de Pedro já foi livro sagrado.
Muitas epístolas circulavam naquela
época como escrita pelos apóstolos. Paulo foi o maior alvo dessas disputas.
Algumas comunidades liam a Epístola aos Laodicenses e a Epístola aos
Alexandrinos como textos autênticos do apóstolo. O Cânone Muratoriano dirá que
elas não são de Paulo e nem devem ser lidas como sagradas. De modo geral,
sabemos que os primeiros cristãos leram mais cartas como sagradas além daquelas
que estão no Novo Testamento. Os cânones locais acabaram trazendo diferenças
doutrinais e, consequentemente, divisões no cristianismo antigo.
Os
escritos apostólicos apócrifos
Há uma grande
lista de epístolas que circularam na antiguidade como sendo da autoria dos
apóstolos. Muitas se tratam de pseudepígrafos, porém, algumas perdidas podem
remontar à tradição de algum apóstolo:
a) Epístolas
pseudo-paulinas:
Epístola
aos Laodicenses: É uma epístola antiga atribuída a Paulo, mas que segundo
alguns heresiólogos seria um texto marcionita. O texto é associado à menção de
Cl 4, 16. Ela foi preservada em muitos manuscritos latinos como o Códex Fuldensis datado de 546.
Epístola aos Alexandrinos:
Seu nome é citado no Cânone Muratoriano como um texto a ser rejeitado. É
considerada por este documento como um texto marcionita. Seu texto é
desconhecido.
Epístola aos Macedônios:
É um texto mencionado por Clemente de Alexandria. Pode ter sido uma epístola
apócrifa atribuída a Paulo.
3ª Epístola de Paulo aos Coríntios:
É
uma epístola apócrifa atribuída a Paulo mencionada nos Atos de Paulo. Pode ter
sido um texto da primeira metade do século II. Foi preservado no Papiro Bodmer
X.
b) Epístolas
pseudo-petrinas:
Epístola de Pedro a Tiago:
É uma epístola de Pedro transmitida pelas Homilias Pseudo-Clementinas. É do
final do século II.
Epístola de Pedro a Filipe: É
um texto do final do século II a início do século III. Foi conservada em língua
copta nos códices de Nag Hammadi.
c) Outras
cartas
Epístola de Tito, discípulo de
Paulo: É uma epístola preservada no manuscrito Códex Burchardi do século VIII. A obra
poderia estar associada aos cristãos priscilianistas.
4ª Epístola de João:
É uma epístola de João citada pelo Pseudo-Cipriano no texto De Duóbus Móntibus Sina et Sion.
Epístola de Barnabé: É
uma epístola que também já foi considerada como texto sagrado. Já apareceu
também no final do Novo Testamento.
Epístola dos Apóstolos: É
uma epístola longa e data do século II. É um texto utilizado pela Igreja
Ortodoxa Etíope.
Considerações
gerais
Além dos evangelhos, as epístolas
apostólicas são fontes primárias da doutrina cristã. Portanto, a circulação de
muitas epístolas tinha como pretensão utilizar a autoridade dos apóstolos para
defender algumas doutrinas. O cristianismo primitivo estava dividido em vários
grupos e muitos tinham seus cânones próprios.
Nos primeiros séculos, alguns textos
que hoje não são considerados canônicos gozaram de tal consideração como o
Apocalipse de Pedro, Pastor de Hermas e a Epístola de Barnabé. Assim como
outros hoje aceitos só entraram mais tarde como Tiago, 2ª Pedro e 2ª e 3ª João
(cânone de Orígenes). A Epístola aos Hebreus, de Judas e o Apocalipse de João
também foram alvo de divergências. Por outro lado, Eusébio de Cesareia nos
informa que foi aceito por uns um quinto evangelho: o Evangelho dos Hebreus
(25, 5). Este conjunto do Novo Testamento foi chamado de antilegómena (“obras em disputa”). Apesar do consenso em torno do
cânone no século IV, as igrejas orientais e ocidentais ainda possuem diferenças
em seus cânones.
Neste vídeo (texto), o objetivo era
mostrar que várias epístolas circularam sob as autoridades dos apóstolos.
Muitas foram escritas em nome de apóstolos que já tinham morrido. O consenso em
torno desses textos foi um processo lento e difícil de ser decidido. O cânone
foi mais flexível no Oriente, a rigidez maior aconteceu no Ocidente.
Referências
EHRMAN, Bart D. Lost Scriptures: Books that Did not in
to the New Testament. Oxford/New York: Oxford University Press, 2003.
SCHNEEMELCHER, Wilhelm. New Testament Apocrypha. Volume Two: Writings Related to Apostles;
Apocalypses and Related Subjects. Louisville; Kentucky: Westminster John Knox
Press, 2003.
Nenhum comentário:
Postar um comentário