O SURGIMENTO DE UM RITO
PARA A CEIA EUCARÍSTICA
THE EMERGENCE OF
A RITE FOR THE EUCHARISTIC SUPPER
José Aristides da Silva Gamito
1. Introdução
As
reuniões dos primeiros cristãos tiveram início de modo simples, imitando o
cotidiano, sem uma ordem estabelecida. Eles se reuniam periodicamente para
rememorar a última ceia do Senhor. Na comunidade de Corinto, surgiu um
problema. As assembleias estavam ficando tumultuadas. Paulo intervém com uma
carta. O apóstolo não informa detalhes sobre o rito mínimo que esta comunidade
seguia. Ele apenas diz que é necessário tem uma ordem.
Geralmente,
a reunião começava com comidas e bebidas. Era um momento para colocar os dons a
serviço da comunidade. As cartas eram lidas durante esta reunião. A evolução da
ceia eucarística foi acontecendo aos poucos. A realização de uma refeição de
confraternização era o centro porque era o memorial do Senhor. Aliás, um
banquete (symposium) tinha lugar em
várias associações da antiguidade. O banquete não era somente para comer, mas
também para discutir filosofia, realizar ritos religiosos.
2.
O desenvolvimento do rito da Ceia do Senhor
A
recitação das palavras de Jesus na última ceia parece que foi sendo incorporada
no rito da eucaristia desde o começo. Paulo
faz referência à bênção que era proferida sobre o cálice (1 Cor 1,16). A
fórmula da ceia do Senhor é descrita em 1 Coríntios 11, 23-27. Mais tarde, depois
do ano 90, na Didaquê aparecem duas
bênçãos que deveriam ser proferidas sobre o cálice e sobre pão (Did. 9, 1-5).
Após a ceia havia uma ação de graças que deveriam ser rendidas (Did. 10, 1-6).
Já
no século II, surgem algumas prescrições rituais. Porém, os ritos variavam de
lugar para lugar. Justino Mártir
informa seguinte ordem: a) Leitura dos evangelhos ou profetas; b)
pronunciamento do presidente; c) oração comum; d) apresentação da comida e da
bebida; e) oração eucarística; f) distribuição dos alimentos; g) refeição e h)
coleta (I Ap. 67, 3-6). Clemente de
Alexandria apresenta a seguinte ordem: a) Leitura das Escrituras; b)
interpretação; c) refeição eucarística; d) oração e e) canto de hinos.[1]
No
final do século II, Tertuliano no Apologeticum fornece uma rápida visão da
ordem dos atos na ceia: a) oração de pedido e de intercessão; b) leitura das
Escrituras; c) sermão; d) coleta; e) oração eucarística; f) refeição; g) cantos
e h) canto final. Este autor menciona
também que o costume era se reunir aos domingos. Tertuliano aponta que nos
grupos de cristãos heréticos, além desses atos, havia ênfase em revelações e em
curas.[2]
Nos
atos apócrifos, a ordem das partes
que compunham as assembleias era diversa, mesmo com a manutenção de alguns
elementos. Nos Atos de João: a) sermão; b) oração; c) prece eucarística; d)
refeição eucarística. Nos Atos de Pedro, a ordem variava: a) oração
eucarística; b) advertências; c) oração de intercessão; e de outro modo: a)
leitura das Escrituras; b) sermão; c) oração; d) curas; e) refeição
eucarística. Nos Atos de Paulo, a ordem preferida era: a) oração; b) fração do
pão; c) sermão e d) discurso profético; e) refeição eucarística e f) cantos.[3]
No
século III, a liturgia ganha um caráter sacramental. Segundo a Tradição Apostólica, as orações de ação
de graças antecediam a refeição eucarística. A ordem do rito que vai se
definindo é a seguinte: a) saudação do bispo; b) oração eucarística; c) oração
comum; d) recitação de salmos; e) bênção sobre o cálice e o pão; f) comida e
bebida; g) instrução do bispo; h) após a refeição, distribuição do apophoreta. Na Didascália, a ordem é a seguinte: a) oração; b) leitura das
Escrituras; c) sermão; d) oração eucarística e f) eucaristia.[4]
3.
Considerações finais
Podemos
dizer que, do ponto de vista da história do cristianismo primitivo, a missa
católica e o culto neopentecostal representam duas versões extremas das
assembleias dos primeiros cristãos. A missa racionalizou os atos através de um
rito fechado, organizado, excessivamente medido. O culto neopentecostal optou
pelo uso livres dos elementos rituais, chegando à quase ausência de ritos. As liturgias
antigas estavam a meio caminho dessas extremidades.
Referências
ALIKIN, Valeriy Alexandrovich. The
earliest history of the christian gathering origin, development and content of
the christian gathering in the first to third centuries. Doctor’s thesis.
University of Leiden, 2009.
DIDAQUÊ.
Didaquê. In: Padres Apostólicos. São
Paulo: Paulus, 1995.
[1] ALIKIN, Valeriy Alexandrovich.
The earliest history of the christian
gathering origin, development and content of the christian gathering in the
first to third centuries. Doctor’s thesis. University of Leiden, 2009, p. 60.
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