segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Evangelhos - linha do tempo


CRONOLOGIA DA REDAÇÃO DOS EVANGELHOS

Evangelho
Língua original
Data
Proveniência
Marcos
Grego
50-75
Síria
Mateus
Grego
70
Palestina
Lucas
Grego
80-90
Síria
João
Grego
90-110
Éfeso
Tomé
Grego
100-150?
Síria
Pedro
Grego
150
Síria?
Hebreus
Grego
100-150
Egito
Nazarenos
Aramaico/Siríaco
100-150
Síria
Ebionitas
Grego
100-150
Transjordânia?
Egípcios
Grego
100-150?
Egito
Marcos Apócrifo
Grego
?
Egito
Protoev. de Tiago
Grego
150-200
Síria
Judas
Grego
final do século II?
Egito
Tomé da Infância
Grego
final do século II
?
Filipe
Grego
200-250?
Síria?

Nas referências para os evangelhos apócrifos seguimos:

SMITH, Murray J. The Gospels in Early Christian Literature. p. 190.


quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Setianismo e valentinianismo


A LITERATURA VALENTINIANA E SETIANA

José Aristides da Silva Gamito


O cristianismo primitivo era dividido em vários grupos, dentre eles estavam os valentinianos e os setianos. A importância de se estudar esses dois cristianismos é a literatura que deixaram. As duas fontes privilegiadas para o conhecimento das crenças dos setianos e dos valetinianos são as informações dos padres apologistas e dos códices descobertos em 1945 em Nag Hammadi no Egito.
Os padres apologistas apresentam suas ideias como doutrinas falsas, como “heresias”, portanto, é uma biografia contada pelos inimigos. Os textos de Nag Hammadi vieram contrabalancear essas informações, trazendo a voz dos próprios cristãos gnósticos. O cristianismo antigo era mais complexo do que se imagina. A posição ortodoxa sobrevivente é que contou a sua versão e a autenticou. Para fins acadêmicos, se quisermos pesquisar o cristianismo primitivo enquanto fenômeno cultural, temos de revisitar essas vozes silenciadas.
Apresentamos, portanto, os traços característicos e as obras principais das literaturas setiana e valentiana.

Literatura Setiana

Os textos setianos são marcados pela ênfase na história dos descendentes de Set; a doutrina da sabedoria divina, sua queda e restauração; rito batismal; especulações que relacionam Cristo com Set e com Adão e uma visão do mundo de fundo platônico.
As obras setianas foram compostas num período entre 100 a 250.  Segundo John Turner, o setianismo que era uma seita já existente, se cristianizou no século II. Eles identificaram o conceito de Logos com Cristo. Esta noção aparece no Evangelho canônico de João.  As obras refletem esta doutrina sobre Cristo: O Evangelho dos Egípcios, o Apócrifo de João, a Protennoia Trimórfica e Melquisedec.
O Apocalipse de Adão reflete a doutrina setiana do batismo. A contemplação e o êxtase místico são temas das obras Zostrianos, Marsenes, Allogenes e As Três Estelas de Set.

Literatura valentiniana

            As obras que remontam ao próprio iniciador do cristianismo valentiniano são o Evangelho da Verdade, os Salmos, a Epístola de Agatópus, a Espístola dos Anexos, Sobre os Amigos, Sobre as Três Naturezas e Sophia. Há entre estes também o Evangelho de Filipe e a Epístola de Pedro a Filipe. Vários autores valetinianos deixaram suas obras, chegando a constituir uma escola literária como Ptolomeu, Heracleão, Marcos, Teódoto, Florino e Teótimo.
            Este movimento foi atuante até o século IV. Essas obras contêm uma complexa mitologia na qual aparece as figuras de Cristo e da Sabedoria Divina. Para os valentinianos, Cristo era filho da Sabedoria Divina.

Considerações gerais

            Segundo Bart Ehrman, o gnosticismo influenciou doutrinas cristãs que se tornaram ortodoxas. A doutrina da Trindade tem similaridades com a crença gnóstica de várias personalidades para Deus, a noção de integração entre mundo natural e sobrenatural, a ideia de Deus como uma pessoa relacional. Algumas dessas doutrinas são recepções ortodoxas de ideias gnósticas ou são defesas de cosmovisões gnósticas.
            Portanto, a compreensão do cristianismo como um fenômeno social, cultural e histórico depende também dessas fontes gnósticas. Esta é a nossa contribuição para estimular o estudo da literatura do cristianismo primitivo.

Referências
ERHMAN, Bart. The Orthodox Corruption of Scripture. NY: Oxford University Press, 1993.
TURNER, John. Sethian Gnosticism: A literary history. S.d.e.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Série Christianitates - Os cristianismos antigos 09




OS CRISTIANISMOS ANTIGOS

José Aristides da Silva Gamito

A concepção de um cristianismo único e homogêneo soa como um mito quando falamos do cristianismo dos primeiros séculos. As diferenças doutrinárias entre os diversos grupos, os costumes das diferentes regiões do Império Romano, tudo nos leva a desenhar um quadro desta religião como multifacetária. As comunidades cristãs antigas apresentavam variadas formas de vivenciar o cristianismo.
Os primeiros missionários levaram o cristianismo para as diversas províncias do
Império Romano. Entre fins do século II a início do século III, já havia cristãos na Espanha. Isso representa o extremo da expansão do movimento. Toda esta extensão territorial e esta variedade cultural geraram muitas polêmicas entre cristãos ortodoxos e heterodoxos. Os autores antigos como Hipólito de Roma, Ireneu de Lião e Epifânio de Esmirna escreveram críticas duras a pessoas que pregavam doutrinas diferentes e formavam comunidades independentes.

Os cristianismos antigos

Os principais grupos cristãos antigos são:

Gnosticismo: É uma corrente cristã que considerava que a salvação se dava pelo conhecimento. Um dos cristãos gnósticos mais influentes foi Valentim de Alexandria (+160). O gnosticismo compreendia vários grupos.
Valentianismo: É um dos ramos mais notáveis do gnosticismo fundado por Valentim de Alexandria.
Encratismo: É um cristianismo com práticas rigorosas como o vegetarianismo, a sobriedade alcoólica e o celibato.
Ebionismo: Era um grupo cristão que observava muitos pontos da lei judaica e negava a preexistênica de Jesus.
Carpocriacianismo: É um movimento cristão do século II iniciado por Carpócrates de Alexandria que considerava Jesus como filho biológico de José e rejeitava o Antigo Testamento.

Setianismo: É um movimento cristão que identificava Cristo com Seth e deixou uma extensa literatura inclusive textos apócrifos.
Marcionismo: Era um movimento cristão de base paulina, rejeitava o Antigo Testamento, tinha uma edição própria de Evangelho e uma moral severa.
Maniqueísmo: Era um grupo que acreditava que o universo era composto por um reino do bem e outro do mal, acreditavam num Cristo celestial.

Considerações gerais

Houve divisão entre os cristãos quanto à relação entre a Lei e a graça, quanto à aceitação do Antigo Testamento, quanto à natureza de Cristo. Foram dezenas de temas que geraram divisões. Epifânio de Salamina elenca em sua obra Panarion cerca de 25 grupos cristãos heterodoxos.
As controvérsias sobre a identidade de Cristo foram um dos temas que mais gerou divisões, as chamadas “controvérsias cristológicas”. Os concílios que aconteceram a partir do século III tinham como objetivo superar essas divisões através de normatizações e declarações de dogmas para toda a Igreja.
Por esta razão, os estudiosos Walter Bauer e Bart Ehrman consideram que o cristianismo primitivo era um conjunto de cristianismos. Havia várias versões das crenças cristãs. O que fizeram os concílios do século II ao século IV foi tentar homogeneizar uma vertente dogmática-padrão, “a ortodoxia católico-ortodoxa”.
Esta ortodoxia foi expressa pelos concílios ecumênicos. A maioria dos cristianismos heterodoxos, chamados de “heresias”, acabou não sobrevivendo.


sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Alexandria - Antioquia e Cesareia


AS GRANDES ESCOLAS TEOLÓGICAS DA ANTIGUIDADE II


SEDE
FUNDADOR
DIRETORES
ALUNOS DE DESTAQUE
CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS
Alexandria
Panteno (+200)
Clemente de Alexandria (150-215)

Orígenes (185-253)

Dionísio de Alexandria (+265)

Teognosto (+ 282)

Pierio (+310)

Dídimo, o Cego (313-398
Atanásio (296-373)

Cirilo (376-444)

Apolinário de Laodiceia (310-390)

Jerônimo (345-420)

Rufino de Aquileia (344-410)
ü   Grande influência do platonismo: o mundo visível é uma cópia do mundo real das ideias; e da síntese de Fílon entre filosofia, como método de interpretação e revelação.
ü   Forte tendência à interpretação alegórica das Escrituras (especialmente sob Orígenes).
ü   Sua doutrina do Logos, como uma ponte entre Deus e o mundo, é uma tentativa de reconciliar o evangelho com a filosofia grega.
ü   Tendência para exaltar o elemento divino em Cristo à custa de sua humanidade.
ü   Defesa firme do título theotokos (Mãe de Deus) aplicada a Maria.
ü   Confrontado com a escola de Antioquia, que a acusou de carnal por aderir à letra da Escritura.
Antioquia da Síria
Malquião (+ 270)
Diodoro de Tarso (+394)
Luciano de Antioquia (+312)

Ário (256-336)

Eusébio de Nicomédia (+342)

Isidoro de Pelúsio (+435)

João Crisóstomo (347-407)

Teodoro de Mopsuéstia (350-428)

Teodoreto de Ciro (393-458)

Nestório (381-c.450)
ü  Forte tendência à interpretação histórico-gramatical das Escrituras.
ü  Grande interesse na humanidade de Cristo e no Jesus histórico.
ü  Relutante em usar o título Theotokos (Mãe de Deus) aplicado a Maria.
ü  Ênfase em teologia pastoral e exegese científica.
ü  Confrontado com a escola de Alexandria, que ele acusou de destruir o valor histórico da Bíblia, transformando-o em mitologia.
ü  Atingiu seu apogeu no século IV.
Cesareia da Terra Santa
Orígenes (185-253)
Pânfilo (+310)
Gregório, o Taumaturgo (213-270)

Eusébio de Cesareia (263-339)

Basílio, o Grande (329-279)

Gregório de Nissa (330-394)

Gregório de Nazianzo (330-390)
ü  Continuava a linha de Alexandria, porém, mais moderada.

Referência
Las grandes escuelas teológicas de la antiguedad. Disponível em: <https://www.iglesiapueblonuevo.es/index.php?codigo=historiap85<. Acesso em 17 ago. 2018.