segunda-feira, 26 de junho de 2017

Barnabé e Didaquê



RELAÇÕES ENTRE A EPÍSTOLA DE BARNABÉ E A DIDAQUÊ
 

RELANTIONSHIPS BETWEEN EPISTLE OF BARNABAS AND DIDACHE

José Aristides da Silva Gamito
 

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A Didaquê é um documento muito importante do cristianismo primitivo. Ela esteve perdida até metade do século XIX. A sua data de composição é posta em torno do ano 70 d. C., na Síria. Foi citada por autores como Clemente de Alexandria, Orígenes e Atanásio. Trata-se de um catecismo atribuído aos 12 apóstolos e que aborda assuntos como disciplina eclesiástica, moral e prática litúrgica.
A Epístola de São Barnabé teve origem provavelmente em Alexandria por volta de 117 a 132. Trata de assuntos de doutrina. O interessante é um tema comum a estes dois documentos: A doutrina dos dois caminhos. Alguns estudiosos sugerem que estes textos podem ter sido baseados em uma fonte comum. A tradição dos dois caminhos é de origem judaica.

Epístola de Barnabé, capítulo 18:

Sobre esse assunto, chega. Passemos para outro tipo de conhecimento e ensinamento. Existem dois caminhos de ensinamento e autoridade: o da luz e o das trevas. A diferença entre os dois é grande. De fato, sobre um estão postados os anjos de Deus, portadores da luz; e sobre o outro, os anjos de satanás. Um é Senhor de eternidade em eternidade, o outro é príncipe do presente tempo da iniquidade.


E continua no capítulo 19:


Este é o caminho da luz: se alguém quer andar no caminho e chegar ao lugar determinado, que se esforce em suas obras. Eis, portanto, o conhecimento que nos foi dado para andar nesse caminho.


Didaquê, capítulo 1:

Existem dois caminhos: o caminho da vida e o caminho da morte. Há uma grande diferença entre os dois. Este é o caminho da vida: primeiro, ame a Deus que o criou; segundo, ame a seu próximo como a si mesmo. Não faça ao outro aquilo que você não quer que façam a você.

Os dois textos usam a metáfora dos dois caminhos para introduzir orientação moral e em seguida lista vícios e virtudes.

REFERÊNCIAS

BARNABÉ, Epístola de.
DIDAQUÊ: A Instrução dos Doze Apóstolos.
MIRUS, Thomas V. Church Fathers: The Didache and the Epistle of Barnabas. Disponível em: https://www.catholicculture.org/commentary/articles.cfm?id=628 . Acesso em 26 jul. 2017.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

VI - Religião e Literatura

A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA DO CRISTIANISMO PRIMITIVO
THE IMPORTANCE OF EARLY CHRISTIAN LITERATURE

1.    A necessidade de conhecer as ideias cristãs primitivas

O cristianismo marcou profundamente a história da civilização ocidental. E a compreensão de um movimento pressupõe o conhecimento das origens. Para o conhecimento das grandes doutrinas cristãs, precisamos compreender que ideias estavam na origem de tudo. A literatura cristã é uma importante fonte para conhecermos como as doutrinas de hoje foram formadas.[1]
A mensagem cristã não estava preocupando somente com questões soteriológicas, mas também morais, antropológicas e cosmológicas. Como os estóicos os pregadores cristãos condenavam os vícios e exortavam as pessoas às virtudes. Os novos convertidos experimentavam novas formas comportamento social dentro das comunidades.
O cristianismo enfrentou a concorrência de muitos cultos mistérios que estavam em alta nos primeiros séculos. A doutrina da imortalidade da alma fez com o cristianismo ganhasse muitos adeptos.[2] Os textos apócrifos e dos padres apostólicos são as fontes necessárias para conhecer a diversidade de ideias e de posturas que formaram o cristianismo primitivo. Nas palavras de Martin Dibelius:

Os livros do NT e outros escritos da época cristã primitiva dos primeiros séculos representam a confirmação da mensagem cristã. Mas a influência daquela mensagem depende de sua penetração em determinadas formas temporalmente consagradas, vem por anunciada por personalidades históricas e expressa em acontecimentos históricos. Quem pretende expor o surgimento do cristianismo primitivo tem de examinar como o cristianismo primitivo adquiriu assim sua configuração.[3]

2.    A literatura cristã além do NT

Além dos textos do Novo Testamento, uma vasta literatura foi desenvolvida no cristianismo primitivo. Orígenes, Ireneu e Clemente de Alexandria falam de muitos evangelhos que foram escritos. Muitos textos concorreram com aqueles do NT até a fixação do cânone do século IV. Estes textos que são considerados apócrifos neotestamentários somam por volta de 200.[4]
Porém, muitos textos estão além dessa classificação de apócrifos como apologias, homilias, tratados, cartas, hinos. Há uma variedade gênero que nos informa as doutrinas, ideias e modo de vida dos primeiros cristãos. A descoberta de bibliotecas em Qumram e em Nag Hammadi ampliou consideravelmente nossa noção da diversidade e quantidade de textos cristãos.
O que chamaremos de literatura do cristianismo primitivo será aquela produção literária cristã do século I ao século IV. E estamos falando de textos além do NT.[5] Phillip Vielhauer classifica os textos da literatura cristã em apócrifos e padres apostólicos. São de autoria dos padres apostólicos os textos das Cartas de Barnabé, Pastor de Hermas e Didaquê. Dentro os textos apócrifos estão os textos de Nag Hammadi estão o Evangelho de Tomé, da Verdade, de Filipe e o Livro de Tomé “Contendor”.[6]
Dentre estes textos temos evangelhos, atos e apocalipses diversos. Dos evangelhos podemos falar do Protoevangelho de Tiago (séc. II ao IV). Este texto conta a história do nascimento, crescimento e casamento de Maria, mãe de Jesus.[7] Os textos sob o nome de Evangelho são muitos. O Evangelho dos Hebreus[8], Evangelhos dos Egípcios, Evangelho de Pedro (séc. II) fala da paixão de Jesus[9].
Epifânio de Salamina por volta de 374 e 377 escreveu a obra Panarion. A obra foi composta em três volumes[10]. Na seção 26 da obra Panarion há algumas referências a textos gnósticos. Dentre eles, aparecem menções a alguns evangelhos. Há uma passagem curta do Evangelho de Eva (26, 3.1). Uma referência ao Evangelho de Filipe (26, 13.2). Aparece no 26.2,5 uma menção ao Evangelho da Perfeição, mas sem nenhuma citação. E o Evangelho de Judas (38. 1,5). Em uma única obra temos conhecimento da existência de vários evangelhos não-canônicos[11].
Um evangelho apócrifo que muito tem despertado o interesse dos estudiosos é o de Tomé. O Evangelho de Tomé foi escrito entre os anos 70 e 90 d. C e sua teologia aponta para a conclusão de que todo homem pode se assemelhar a Jesus através da revelação e da iluminação.[12]
Portanto, muitos evangelhos, atos, apocalipses, cartas e tratados diversos foram escritos nos primeiros séculos do cristianismo. Muitos textos foram propostos como autoridade para ensinar a verdadeira doutrina cristã. Mas apenas um número limitado foi aceito como canônico.
Os escritos dos padres apostólicos representam comentários e ensinamentos sobre o que se entendia como doutrina cristã naquele período. Até o século IV, muitos textos foram escritos e auxiliam a entender muitos aspectos que não tratados ou são ampliados nos textos do Novo Testamento.

Referências

DAVIES, Stevan. The Gospel of Thomas and Christian Wisdom. New York: The Seabury Press, 1983.

EPIPHANIUS, Saint. The Panarion of Epiphanius of Salamina. Book I. Translated by Frank Williams. Boston: Brill, 2009.

HATCH, William Harry Paine. The Primitive Christian Message. Journal of Biblical Literature, Vol. 58, No.1, mar., 1939.

MORESCHINI, Claudio e NORELLI, Enrico. Manual de Letteratura Antica Greca e Latina. Brescia: Editrice Morcelliana, 1999.

ROMANUS, Hippolytus. The Refutation of All Heresies. III, 55.
SEN, Felipe. Apócrifos del Nuevo Testamento y La Literatura Cristiana Primitiva. Asociacion Española de Orientalistas, XXXIX (2003), p. 206-207.

VIELHAUER, Phillip. Introducción al Nuevo Testamento y los padres apostólicos. Salamanca: Sígueme, 1991.






[1] HATCH, William Harry Paine. The Primitive Christian Message. Journal of Biblical Literature, Vol. 58, No. 1 (Mar., 1939), pp. 1-3.
[2] HATCH, 1939, pp. 12-13.
[3]VIELHAUER, Phillip. Introducción al Nuevo Testamento y los padres apostólicos. Salamanca: Sígueme, 1991.
[4] SEN, Felipe. Apócrifos del Nuevo Testamento y La Literatura Cristiana Primitiva. Asociación Española de Orientalistas, XXXIX (2003), p. 206-207.
[5] SEN, p. 209.
[6] VIELHAUER,1991.
[7] SEN, 2003, p. 209.
[8] SEN, 2003, p. 212.
[9]  SEN, 2003, p. 213.
[10] MORESCHINI, Claudio e NORELLI, Enrico. Manual de Letteratura Antica Greca e Latina. Brescia: Editrice Morcelliana, 1999, pp. 234-235.
[11] EPIPHANIUS, Saint. The Panarion of Epiphanius of Salamina. Book I. Translated by Frank Williams. Boston: Brill, 2009, p. 26.
[12] DAVIES, Stevan. The Gospel of Thomas and Christian Wisdom. New York: The Seabury Press, 1983, p.4.