quinta-feira, 5 de maio de 2022

A reabilitação das ideias dos ditos hereges

 JOVINIANO DE CORDUENE: O EPICURO DO CRISTIANISMO OU PRÉ-REFORMADOR?

 


 

A pesquisa sobre a literatura do cristianismo primitivo e antigo nos revela o quão diverso era esse movimento. Além disso, à medida que o cristianismo vai se institucionalizando e ganhando poder político, ele vai se inclinando à intolerância religiosa. O monge Joviniano, no século IV, foi vítima de uma dura perseguição por dar uma nova interpretação a algumas crenças cristãs. A polêmica foi preservada na obra Adversus Jovinianum de Jerônimo.

Jerônimo cita as principais teses de Joviniano:

 

(1)    Ele diz que “virgens, viúvas e mulheres casadas, que uma vez passaram pela pia de Cristo, se eles estão em pé de igualdade em outros aspectos, são de igual mérito”.

(2)    Ele se esforça para mostrar que “aqueles que, com plena certeza de fé, nasceram de novo em batismo, não pode ser derrubado pelo diabo”.

(3)    Seu terceiro ponto é “que não há diferença entre a abstinência de alimentos e sua recepção com ação de graças”.

(4)    A quarta e última é “que há uma recompensa no reino dos céus para todos os que guardaram seu voto batismal” (AJ, I, 3).

 

Joviniano fez críticas à supervalorização da vida monástica em detrimento da vida dos casados. A primeira tese iguala em mérito os estados da virgindade e do casamento. A tradição católica sempre tentou considerar que a virgindade é superior ao casamento. Essa crença nasce com o fortalecimento da vida monástica. É seu discurso interno de justificação. A visão do Joviniano soa como uma compreensão recuperada pelo Concílio Vaticano II de que a condição de batizados iguala leigos e clérigos.

O monge destaca o batismo como a garantia da perseverança moral e da recompensa eterna. É uma postura pré-protestante. O batismo como sinal de fé justifica o fiel diante de Deus. Outra tese que conecta Jovianiano à Reforma Protestante é o desaconselhamento à ascese e à penitência. O jejum e a refeição têm igual valor. Isso significa que as práticas de abstinência do sexo e do alimento são facultativas, escolhas individuais. Elas não tornam ninguém superior ou com mais vantagens espirituais em relação ao casado ou ao que jejua.

Os escritos de Joviniano enfureceram aqueles que construíam sua prática cristã em cima de tais valores. Ele foi condenado como herege.