JOVINIANO DE CORDUENE: O EPICURO DO CRISTIANISMO OU
PRÉ-REFORMADOR?
A pesquisa sobre a literatura do
cristianismo primitivo e antigo nos revela o quão diverso era esse movimento. Além
disso, à medida que o cristianismo vai se institucionalizando e ganhando poder
político, ele vai se inclinando à intolerância religiosa. O monge Joviniano,
no século IV, foi vítima de uma dura perseguição por dar uma nova interpretação
a algumas crenças cristãs. A polêmica foi preservada na obra Adversus
Jovinianum de Jerônimo.
Jerônimo cita as principais teses de Joviniano:
(1)
Ele
diz que “virgens, viúvas e mulheres casadas, que uma vez passaram pela pia de
Cristo, se eles estão em pé de igualdade em outros aspectos, são de igual
mérito”.
(2)
Ele
se esforça para mostrar que “aqueles que, com plena certeza de fé, nasceram de
novo em batismo, não pode ser derrubado pelo diabo”.
(3)
Seu
terceiro ponto é “que não há diferença entre a abstinência de alimentos e sua
recepção com ação de graças”.
(4)
A
quarta e última é “que há uma recompensa no reino dos céus para todos os que
guardaram seu voto batismal” (AJ, I, 3).
Joviniano fez críticas à supervalorização
da vida monástica em detrimento da vida dos casados. A primeira tese iguala em
mérito os estados da virgindade e do casamento. A tradição católica sempre
tentou considerar que a virgindade é superior ao casamento. Essa crença nasce com
o fortalecimento da vida monástica. É seu discurso interno de justificação. A visão
do Joviniano soa como uma compreensão recuperada pelo Concílio Vaticano II de
que a condição de batizados iguala leigos e clérigos.
O monge destaca o batismo como a garantia
da perseverança moral e da recompensa eterna. É uma postura pré-protestante. O batismo
como sinal de fé justifica o fiel diante de Deus. Outra tese que conecta
Jovianiano à Reforma Protestante é o desaconselhamento à ascese e à penitência.
O jejum e a refeição têm igual valor. Isso significa que as práticas de abstinência
do sexo e do alimento são facultativas, escolhas individuais. Elas não tornam
ninguém superior ou com mais vantagens espirituais em relação ao casado ou ao
que jejua.
Os escritos de Joviniano enfureceram
aqueles que construíam sua prática cristã em cima de tais valores. Ele foi condenado
como herege.