Aquele que hoje está longe,
amanhã estará próximo de ti.
Tradução
de José Aristides da Silva Gamito da versão em inglês de:
SCNHEEMELCHER, Wilherm. New
Testament Apocrypha. Volume One: Gospels and Related Writings.Louisville;
London: Westminter John Knoxx Press, 1990, p.100.
Fragmento
de um evangelho de 150 d. C. publicado em 1935 por Bell e Keat
[...]
E Jesus disse aos doutores da Lei: “Puni todo transgressor da Lei, e não a mim
[...] * o que faz, como é que faz”?
E
voltando-se para os líderes do povo, ele disse estas palavras: “Examinai as
escrituras, porque pensais que nela
encontrais a vida, são elas que testificam sobre mim, eu não vim acusar-vos
diante de meu Pai, há alguém que o acusa: Moisés, a quem vós estais esperando.”[1]
E
eles disseram: “Sabemos que Deus falou a Moisés, mas quanto a ti, não sabemos
de onde tu és.” Jesus respondeu e disse-lhes: “Já se levantou uma acusação
contra vossa incredulidade a respeito das coisas que testificam sobre mim”. “Se
vós acreditastes em Moisés, teríeis acreditado em mim, foi sobre mim que ele
escreveu aos vossos antepassados”.[2]
Fragmento
1 Reto
[...]
e eles pegaram pedras para apedrejá-lo. E os líderes do povo impuseram as mãos
sobre ele para entregá-lo à multidão. Mas eles não conseguiram pegá-lo, porque
o tempo de sua prisão ainda não havia chegado. Mas o Senhor, escapando de suas
mãos, partiu.[3]
E
um leproso se aproxima e diz: “Mestre Jesus, por causa de viajar e comer com os
leprosos, eu também fui infectado com lepra, se tu quiseres, podes me tornar
limpo”.
E
o Senhor disse a ele: “Eu quero, sê curado”.
E imediatamente
a lepra o deixou. E Jesus disse-lhe: “Vá e mostre aos sacerdotes e faça a
oferta ordenada por Moisés e não peques mais [...]”.
Fragmento
2 Reto
...
Vieram até ele, e o puseram à prova para tentá-lo, dizendo: “Mestre Jesus,
sabemos que tu vens de Deus, então o teu testemunho é maior do que o dos
profetas. Portanto, dize-nos, é lícito pagar aos reis o tributo que lhes pertence?
Devemos pagar ou não?”[4]
Mas
Jesus, vendo a intenção deles, irritando-se, disse: “Por que me chamais de
mestre, se não fazeis o que eu lhes digo?”[5]
Isaías profetizou a vosso respeito, dizendo: “Esse povo se juntou a mim com a
boca e me honrou com os lábios, mas o seu coração está longe de mim, me adora
em vão e ensina preceitos dos homens.”[6]
Fragmento
2 reverso
“O grão de
trigo... em lugar fechado... colocado abaixo e invisível... sua riqueza imponderável?
Eles ficaram perplexos diante de sua pergunta estranha, enquanto Jesus
caminhava à margem do rio Jordão estendeu a mão direita, encheu-a com... e
semeou... no... E então, água... e... diante de seus olhos, trouxe frutos...
muito... para a alegria (?).
Tradução
de José Aristides da Silva Gamito da versão em inglês de:
SCNHEEMELCHER, Wilherm. New
Testament Apocrypha. Volume One: Gospels and Related Writings.Louisville;
London: Westminter John Knoxx Press, 1990, p. 98-99.
A maioria dos leitores
de textos cristãos antigos conhece somente o Novo Testamento. A motivação mais
comum para ler esses textos é confessional e litúrgica. Neste vídeo, quero
abordar a literatura do cristianismo primitivo a partir de uma proposta
acadêmica. A leitura e a análise acadêmica desses textos, geralmente, ocorrem
no campo da teologia, estou propondo uma abordagem a partir das ciências das
religiões (minha área de formação).
O que é o cristianismo
primitivo? Por cristianismo primitivo entendemos o período que compreende o
surgimento das primeiras comunidades cristãs. Se queremos saber como viveram e
pensaram essas pessoas temos de conhecer a literatura desse período. Uma
delimitação cronológica consensual é difícil, mas tomaremos para este fim, um
período entre os anos 50 do século I até os fins do século II. A literatura
sobre a qual estamos falando vai muito além do Novo Testamento.
A fixação do cânone do
Novo Testamento, ou seja, a lista fechada dos 27 livros, ocorre somente no
século IV, então, os textos cristãos dos primeiros séculos podem ser tomados
como literatura cristã em sentido comum. Algumas considerações são necessárias
nesta abordagem: O cristianismo primitivo era plural, há, portanto, várias literaturas
com pensamentos distintos, mas toda circulando como cristã. A distinção entre
textos canônicos e apócrifos, entre doutrinas ortodoxas e heréticas, é uma
consideração a partir do cristianismo que se tornou hegemônico, majoritário,
ortodoxo. Nesta abordagem, procuramos abandonar, dentro do possível, este olhar
seletivo do apologista sobre esses textos.
Classificação
Deste modo, para se
compreender o cristianismo primitivo através de sua literatura é necessário
ampliar a noção de textos cristãos antigos para além do Novo Testamento.
Teremos um conjunto de textos que iremos classificá-los do seguinte modo. Sigo os
autores Philip Vielhauer, Marvin Meyer e Willis Barnstone:
a)Literatura
neotestamentária: São os textos dos evangelhos, atos,
cartas e o apocalipse de João. É a literatura que mais tarde será chamada de
canônica e inspirada por Deus, mas que no primeiro momento são textos como os
demais.
b)Literatura
dos Padres Apostólicos: Epístola de Clemente aos Coríntios,
Didaquê, as Epístolas de Inácio de Antioquia, Epístola de Policarpo de Esmirna
aos Filipenses, Papias de Hierápolis, Epístola de Barnabé e Pastor de Hermas.
c)Literatura
dos Padres Apologistas: Justino Mártir, Taciano, Quadrato,
Aristão de Pela, Melitão de Sardes, Aristides de Atenas, Atenágoras de Atenas,
Teófilo de Antioquia, Epístola a Diogneto.
d)Literatura
tomasina: Evangelho de Tomé, Atos de Tomé e Livro de Tomé.
e)Literatura
setiana: Apócrifo de João, Epístola de Pedro a Filipe.
f)Literatura
valentiniana: Evangelho de Filipe, Evangelho da
Verdade, O Livro Secreto de Tiago, Oração do Apóstolo Paulo.
A importância desta literatura
Houve uma intensa produção literária nos
primeiros séculos do cristianismo. Há textos de diversas tradições cristãs.
Muitos livros circularam com nome de algum apóstolo, mas foram escrito depois
da morte deles. A pseudepigrafia era comum na época. Através destes textos
podemos conhecer o pensamento, a doutrina, a moral, a vida social dos primeiros
cristãos.
Portanto, o Novo Testamento acolheu um
número limitado de textos que foram considerados ortodoxos pela prática cristã
e pelos concílios. Mas foram escritos muitos evangelhos, cartas, atos e
apocalipses. Muitos destes textos foram conhecidos somente nos séculos XIX e
XX, com as descobertas arqueológicas de Oxirrinco e de Nag Hammadi. Enquanto,
outros já eram citados e utilizados pelos padres da Igreja. Havia dezena de
evangelhos como os Evangelhos de Tomé, de Filipe, de Pedro, de Maria Madelana,
de Judas. As epístolas contem pregações eram são muitas. Inácio de Antioquia
escreveu várias. Há Atos de Paulo e Tecla. Apocalipse de Paulo, de Tiago.
Atualmente, o cristianismo primitivo é
mais conhecido por causa dessa literatura. Ao lado do Novo Testamento, ela é
estudada por diversos campos de estudos como ciências das religiões, história,
estudos literários e filosofia. Muitas pesquisas são realizadas no Brasil e no
exterior tomando estes textos como fontes de conhecimento dos costumes dos
primeiros cristãos.