AS
NARRATIVAS DA PAIXÃO DOS EVANGELHOS DE PEDRO
E
DE NICODEMOS
THE NARRATIVES OF THE
PASSION OF THE GOSPELS OF PETER
AND
NICODEMUS
José
Aristides da Silva Gamito
Pintura de Andrea Mategna (1549). |
Introdução
Além
das narrativas da condenação e morte de Jesus dos evangelhos canônicos (Mateus,
Marcos, Lucas e João), houve na antiguidade mais dois evangelhos que contaram
esses fatos. São eles os Evangelhos de Pedro e de Nicodemos. Que textos são
esses? As narrativas são semelhantes. Elas vêm para contar algum ponto ou
curiosidade sobre o processo da morte de Jesus que não há nos outros textos.
Isso se os consideramos como dependentes dos evangelhos canônicos.
Para
as ciências das religiões esses textos são interessantes porque sua análise nos
faz perceber como foi politizada a morte de Jesus no início do cristianismo.
Como qualquer figura pública, há muitas posições sobre sua morte. Ela pode ser
interpretada como por motivos religiosos ou políticos, a culpa pode ser dos
romanos ou a culpa pode ser dos judeus. Muitos textos acusaram os judeus de
deicídio. Além disso, a catequese antiga passou a dar um sentido místico para a
morte de Jesus. Daí nascem as cristologias.
Neste
breve artigo, apresentaremos os Evangelhos de Pedro e de Nicodemos como
testemunhos extracanônicos do processo de condenação e de morte de Jesus.
1.
Evangelho
de Pedro
O
Evangelho de Pedro foi descoberto entre 1886 e 1887 em Akhmîm, no Egito. Ele foi
publicado pela primeira vez em 1892. O texto não apresenta título, mas o autor
se identifica como Pedro.[1] Na
História Eclesiástica de Eusébio de Cesareia há menção a este texto. Eusébio
diz que Serapião escreveu uma obra Sobre o Evangelho de Pedro. A obra de
Serapião rejeita o evangelho como escrituras e informa que era utilizado pelos
docetistas.[2]
Este
evangelho descreve as últimas cenas da vida de Jesus e suas primeiras aparições
depois de ressuscitado. As narrativas são muito próximas aos evangelhos
canônicos. O autor se preocupa muito em engrandecer a figura de Jesus diante
dos pagãos, exalta Pilatos e transfere a responsabilidade da condenação de
Jesus para Herodes.[3]
Apesar
de haver paralelos com o texto nas primeiras décadas do século II, a sua
composição só pode ser fixada por volta de 150. Segundo o testemunho de
Serapião, o texto circulou durante algum tempo na região de Rhossos. Seu ambiente
de composição deve ser a Síria.[4]
2.
Evangelho
de Nicodemos
Trata-se de um evangelho mais tardio
datado do século V. Na Apologia de Justino existe a menção dos Atos de Pedro. Este
texto pode ser uma das partes que compõe o evangelho. Porém, não há testemunhos
seguros de que a obra existisse antes porque o fragmento mais antigo é do
século V.[5]
O texto é divido em três partes: a)
Narra a crucificação, morte, ressurreição e ascensão de Jesus (capítulos 1 a
11); b) Testemunhos sobre a ressurreição; c) a descida de Jesus à mansão dos
mortos. A terceira parte é uma obra completamente diferente e é datada do
século II. O título Evangelho de Nicodemos foi dado somente no século XIII. A
primeira edição moderna do texto é de 1804.[6]
3.
Conclusões
Esses
textos combinam vestígios históricos com a imaginação popular. Eles representam
como as pessoas receberam e ressignificaram as histórias sobre Jesus. A politização
está muito presente nestes textos. É forte a polêmica contra os judeus. Muitos
textos engrandecem Jesus diante da sociedade romana para justificar a fé cristã.
Referências
OTERO,
Aurelio de Santos. Los Evangelios Apocrifos. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos,
1985.
CESAREIA, Eusébio
de. História Eclesiástica. Tradução
de Wolfgang Fischer. São Paulo: Novo Século, 2012.
ILONA, Nagy. The Roasted Cock Crows: Apocryphal Writings (Acts Of Peter, The
Ethiopic Book Of The Cock, Coptic
Fragments, The Gospel Of Nicodemus) And Folklore Texts. Disponível em: < http://haldjas.folklore.ee/folklore/vol36/nagy.pdf>.
Acesso em: 21 mar. 2018.
[1] OTERO, Aurelio de Santos. Los
Evangelios Apocrifos. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1985, p.
375-93.
[2] Cf. Livro VI, capítulo XII, da
História Eclesiástica de Eusébio de Cesareia (CESAREIA, Eusébio de. História Eclesiástica. Tradução de
Wolfgang Fischer. São Paulo: Novo Século, 2012).
[3]
OTERO, 1985, p. 375-93.
[4]
OTERO, 1985, p. 375-93.
[5] ILONA, Nagy. The Roasted Cock Crows: Apocryphal Writings (Acts Of Peter, The
Ethiopic Book Of The Cock, Coptic
Fragments, The Gospel Of Nicodemus) And Folklore Texts. Disponível em: < http://haldjas.folklore.ee/folklore/vol36/nagy.pdf>.
Acesso em: 21 mar. 2018. P. 8-9.
[6]
ILONA, 2018, p. 9.
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